top of page
"O Jorge"

- Conta-me lá em pormenor então como é que as coisas vão funcionar.

- Ok! Jantamos os quatro em nossa casa e depois fazemos o jogo. O critério é que cada um de nós tenha três peças de roupa vestida. Assim estamos todos em igualdade de circunstâncias. Normalmente começamos a jogar sem sapatos e meias, a partir daí podes escolher as três peças que desejas vestir. À medida que formos jogando, quem perder tira uma peça de roupa.

- E vai até ao fim? Até ficar totalmente nua?

- Sim. A não ser que não queiras. Podemos definir algum critério se não te sentires a vontade.

- Não, por mim tudo bem.

- Ok! Quando um dos jogadores ficar totalmente nu sai do jogo, mas não pode vestir-se. Fica a assistir sem roupa. Os restantes continuam a jogar e assim sucessivamente, até apenas um dos jogadores ficar vestido. O vencedor, normalmente, tem direito a um prémio.

- E que prémio é esse.

- Depende. Pode ser, por exemplo, beijar na boca um dos outros participantes, ou poder acariciá-lo em determinada parte do corpo. É uma coisa que podemos definir ao jantar.

- Parece-me interessante!

- Ainda bem. Acho que tens a noção de que se algum dos homens ganhar, quer seja o João, quer seja o Jorge, tu serás o prémio cobiçado. O João não me vai escolher a mim, pois tem-me todos os dias disponível, e o Jorge, com o interesse todo que demonstrou, vai certamente estar desejoso de poder desfrutar de ti!

Eu ri-me com a análise, mas ela tinha razão.

- Então o melhor é fazer com que não seja nenhum dos homens a ganhar!

- Pois… vamos ver!

- Já foste alguma vez o prémio do Jorge?

- Sim.

- E que aconteceu, posso saber?

- Já fui duas vezes o prémio dele. Uma vez tínhamos combinado que o vencedor podia acariciar todo o corpo da pessoa escolhida por cinco minutos e então ele aproveitou para me tocar. Foi muito excitante, tenho de reconhecer. Na outra vez, o prémio foi ele poder colocar um cubo de gelo na boca e beijar-me os seios durante um tempo determinado. Também me deixou bem excitada.

- Nunca acabaram por fazer sexo?

"Uma noite agitada"

Ter reuniões em agosto, que implicam longas deslocações, é sempre uma situação pouco atrativa. Mas há coisas que têm mesmo de ser e, por isso, lá me preparei para uma viagem de cerca de 250 quilómetros.

Saí de Lisboa de manhãzinha e dirigi-me a Aveiro. Fiquei alojada no Hotel Meliá Ria e, como a reunião era apenas ao fim do dia, aproveitei para passear por uma das cidades mais bonitas do país. Pelas seis da tarde, recebi um telefonema do Rui Gomes, representante de uma empresa da região com o qual me ia reunir, avisando-me que chegara. Desci para o átrio da entrada e procurei descobrir quem seria, pois não nos conhecíamos. Não foi difícil, na medida em que o átrio estava quase vazio. Era um homem na casa dos quarenta, espantosamente bonito e com uns olhos castanhos muito claros dos quais emanava um olhar penetrante.

Ele sorriu-me, adivinhando também quem eu era e cumprimentámo-nos com um aperto de mão cordial. Tinha um sorriso fascinante e uma voz quente, e eu dei por mim a pensar que afinal a viagem não tinha sido em vão.

Dirigimo-nos para uma pequena sala de reuniões que tinha reservado e a reunião prolongou-se durante quase duas horas. Quando finalmente terminámos, tínhamos conseguido chegar a um acordo entre as nossas empresas. Ele olhou para o relógio e convidou-me para jantar. Confesso que estava com fome e a ideia de jantar sozinha no hotel não era algo que me entusiasmasse. Acabei assim por aceitar. Ele sugeriu que fossemos jantar ao Restaurante Olá Ria, ali bem perto, e eu concordei. Pedi-lhe para aguardar uns minutos, enquanto ia ao meu quarto trocar de roupa, e subi.

Já no quarto, enquanto despia a saia travada cinzenta e a blusa branca, senti um leve formigueiro entre as coxas. Aquele homem tinha uma carga sensual incrível, aliava a beleza física a um charme distinto, provocando uma mistura explosiva. Enfiei-me num leve e vaporoso vestido creme, com um decote generoso, calcei uns sapatos vermelhos de salto alto e olhei-me ao espelho. Gostei do que vi, ajeitei o cabelo e espalhei um pouco de perfume no pescoço e no colo. Quando desci e a porta do elevador se abriu, ele estava junto à porta de entrada do hotel e acenou-me.

O olhar que me lançou revelou que também gostara do que vira. Sorri-lhe enquanto ele me elogiava, dizendo que a mudança de visual para um look mais informal, me caía muito bem. Saímos do hotel e eu olhei, fascinada, para aquela paisagem única que a ria proporciona. Caminhámos a pé até ao restaurante, em silêncio. Quando chegámos, percebi que ele era conhecido por ali, pois vários empregados o cumprimentaram. Pediu uma mesa na esplanada e sentámo-nos. Optámos pelo bacalhau com natas e gambas e a refeição foi muito agradável. Tinha 42 anos e estava separado há cinco. Tinha dois filhos, de 12 e 8 anos, e mantinha uma relação de amizade com a ex-mulher, que vivia no Porto. Por causa dos filhos, ia frequentemente à capital do Norte, aproveitando também para tratar de alguns negócios que mantinha por lá.

Era um galanteador discreto, de vez em quando fazia uns comentários bem-dispostos como por exemplo que nunca tinha tido reuniões com nenhuma empresa que tivesse um representante tão bonito quanto eu. Mas era engraçado que dizia as coisas sem que parecesse grosseiro, de tal forma que eu dei por mim a desejar ouvir os seus piropos simpáticos.

Já na parte final do jantar o meu telemóvel tocou. Ele disse-me para atender e eu vi no visor que era o Jorge. Atendi e contei-lhe que a reunião tinha corrido muito bem e que estava naquele momento a jantar com a pessoa com quem me tinha reunido. Depois de desligar, pedi-lhe desculpa pela interrupção.

- Não faz mal! Para mais, sendo o marido! Espero que ele não tenha levado a mal eu tê-la convidado para jantar.

- Não se preocupe, ele não levou a mal de certeza. Não há nada de errado em aceitar um jantar do representante da empresa com a qual fechámos um importante negócio.

- Claro que não!

O jantar prolongou-se durante mais meia hora. Já passava das dez da noite quando saímos do restaurante. Ele acompanhou-me ao hotel, até à porta do elevador. Despedimo-nos com dois beijos e a mão dele pousou ao de leve na minha cintura. O gesto, que não percebi se foi instintivo ou premeditado, provocou-me um arrepio ao sentir o calor da sua pele trespassar-me o tecido leve do vestido.

- Gostei muito de a conhecer! – referiu-me.

- É recíproco! – respondi.

- Amanhã a que horas sai para Lisboa?

- Não devo sair muito cedo. Aí pelas dez, nunca antes. Quero dormir uma boa noite de sono e acordar fresquinha e com forças para a viagem!

- Bons sonhos então! – disse-me retirando a mão da minha cintura. O calor da sua pele, apesar do toque ter sido muito leve, continuou no entanto a beijar-me a zona em que ela tinha pousado.

- Obrigado!

Subi ao meu quarto e deitei-me. Tinha sido um dia cansativo e no dia seguinte esperava-me uma longa viagem de regresso a casa. Mas tinha gostado de conhecer o Rui, decididamente um homem muito apetecível. Imaginei como seria na cama… e cheguei à conclusão de que deveria ser muito bom! Adormeci com estes pensamentos pouco ortodoxos e dormi a noite toda.

Acordei com o som de umas pancadas na porta do quarto. Olhei para o relógio… eram oito da manhã. Tinha colocado o despertador para as oito e meia e não percebi quem estaria a bater à porta do quarto àquela hora! Levantei-me e olhei em volta à procura de roupa. Estava nua e peguei numa t-shirt e na cuequinha. Vesti as duas peças e aproximei-me da porta. Imaginei que fosse alguém do hotel, embora fosse estranho que algum funcionário fosse incomodar um hóspede daquela forma. Coloquei-me atrás da porta e abri uma frincha, espreitando. Do lado de lá estava o Rui, com um sorriso comprometido.

- Bom dia! Desculpe estar a incomodá-la a estas horas, estou a ver que ainda estava a dormir.

Tentei arrumar as ideias. Porque raios estava ele ali e como tinha subido assim sem mais nem menos. Ele percebeu que eu estava meio baralhada com tudo aquilo.

- É que reparei depois de nos termos separado ontem à noite, que tinha ficado com um dos documentos de que precisa para fecharmos o nosso contrato! E como me disse que saía hoje para Lisboa, passei por cá para o entregar!

Ok! – pensei –  está explicada a situação. Mas como é que tinha entrado pelo hotel sem mais nem menos continuava a ser um mistério. Parecendo que me estava a ler os pensamentos, ele esclareceu-me.

- O funcionário do balcão da receção conhece-me! Sou frequentador habitual aqui do hotel e uso as instalações para reuniões. Disse-lhe que a Ana estava à minha espera… foi uma pequena mentirinha, mas assim aproveitei para lhe entregar a documentação em mãos própria!...

A pouco e pouco sentia-me de volta ao mundo real, depois daquele acordar inesperado. E agora, ia deixá-lo assim no corredor, à porta? É certo que estava com trajes muito reduzidos, mas a t-shirt cobria-me uns dez centímetros das coxas abaixo da cuequinha, e desde que tivesse cuidado, cumpriria os “requisitos mínimos” de cobertura…

- Entre, entre… - disse-lhe abrindo a porta.

Ele agradeceu e entrou no quarto.

- Desculpe a desarrumação!

- Não se preocupe. Afinal, acabou de acordar! – disse olhando para a cama onde eu, minutos antes estivera deitada, nua…

Pedi-lhe para se sentar na cadeira junto à pequena secretária e eu sentei-me na cama, procurando manter as pernas bem juntas, pois a t-shirt – que comigo sentada praticamente me revelava a totalidade das coxas – mostrava-se agora bastante indiscreta.

Vi que ele abria uma pasta que trazia na mão. Retirou um documento lá de dentro e estendeu-mo.

- Aqui está! Foi no meio dos meus papéis sem querer, e precisa dele para levar consigo.

Olhei para a folha e vi que ele tinha razão. Levantei-me e fui buscar o dossiê onde tinha o resto da documentação. Tive de passar em frente dele e o seu olhar mirou-me as pernas nuas. Senti a boca seca… a manhã estava a começar de forma muito “quente” e relembrei as minhas fantasias da noite anterior quando me deitara e imaginara como seria ele na cama.

Guardei o documento no dossiê e olhei-o.

- Agradeço imenso o seu cuidado. Seria uma chatice chegar lá e perceber que faltava este documento! Muito obrigado.

- Não tem que agradecer! Não custou nada, eu moro aqui perto e também foi uma forma de me poder despedir de si outra vez!

Senti um leve rubor nas faces, perante o galanteio dele.

- Por outro lado – continuou – fiquei a conhecer a terceira versão da Ana!

- A terceira versão? – perguntei sem perceber.

- Sim! Ontem, quando tivemos a reunião, conheci a Ana formal, vestida com uma elegância de executiva; Depois, ao jantar, conheci a Ana mais descontraída, com um vestido leve e ousado que lhe caía deliciosamente bem…

Fez uma pausa e olhou-me.

- Hoje acabei por ter uma visão da Ana mais… privada…

- Devo estar de meter medo, toda desgrenhada, acabada de me levantar!

Ele sorriu ficando com um ar que me pareceu o espelho de pensamentos muito pouco “recomendáveis”.

- Posso garantir-lhe Ana que está fabulosa. Quase me atreveria a dizer que é a versão da Ana que mais me agradou… apesar de todas elas serem fascinantes.

A conversa tomava um rumo que poderia ser perigoso! Sobretudo porque ele era mesmo apetecível! Respirei fundo tentando racionalizar tudo aquilo.

- Já vi que o Rui é um galanteador! Deve ser perigosíssimo para as mulheres!

Ele soltou uma gargalhada.

- Eu??? Não… sou uma pessoa que não gosta de dar graxa aos outros e quando digo alguma coisa é porque estou mesmo convencido disso. Os meus elogios são sinceros!

Esbocei um leve sorriso.

-Olhe, que me diz de tomarmos o pequeno-almoço juntos? – perguntei – Já que teve a amabilidade de vir até aqui, pago eu o pequeno-almoço num café aqui perto!

- Pode ser!

- Vou só tomar um duche, não demoro ok?

- Claro, esteja à vontade. Quer que espere por si lá em baixo?

- Não é preciso, pode esperar aqui!

Fui ao meu saco de viagem e retirei uma tanguinha. Vi o brilho dos olhos dele ao observar a minha lingerie. Imaginei que pela cabeça dele passariam imagens do meu corpo a vesti-la. E pela minha cabeça começavam a passar imagens dele a despir-ma…

Dirigi-me à casa de banho e abri a torneira do duche. Despi-me e enfiei-me debaixo da água quente, saboreando o momento. A ideia de ter, a poucos metros, um homem sentado no meu quarto, provocava-me uma excitação… sobretudo porque esse homem era o Rui, um espécime masculino de luxo!

Quando desliguei a torneira e me sequei, senti-me deliciosamente fresca. Vesti a tanguinha e não pude evitar um “Bolas!” em surdina. O resto da roupa ficara no quarto! Que idiota, pensei. Ou então, o meu subconsciente pregara-me uma partida e aquele esquecimento tinha alguma explicação freudiana! A verdade é que a roupa que trouxera para a viagem de regresso, uma fina camisolinha branca e vermelha de alças e uns reduzidos calções de ganga, tinham ficado no saco da roupa! Era uma indumentária que costumava usar sem soutien, sobretudo nos dias quentes como os que se faziam sentir. E nada como conduzir com roupa confortável e sem peças a apertarem…

Enrolei a toalha à volta do corpo e apertei-a junto aos seios. Teria de ir assim para o quarto! Saí da casa de banho e o Rui, que estava de pé, junto à janela, olhou-me.

- Uau! Ana após o duche, versão quatro!

Não pude deixar de rir.

- Desculpe, esqueci-me da roupa aqui no saco, levei apenas a cuequinha!

- Não faz mal! Esteja à vontade, faça de conta que eu não estou aqui!

A frase dele podia ser encarada de vários sentidos. Um deles era o de que eu poderia vestir-me ali à frente dele, e essa opção provocou-me um arrepio repentino.

bottom of page